Desafios e oportunidades na era tecnológica
No Brasil, a falta de planejamento na adoção de inovações apresenta, dentre suas principais consequências, baixos índices de produtividade se comparados a outros países do mundo, incluindo os da América Latina. Este cenário pode ser considerado um reflexo direto da falta de investimentos, públicos e privados, em projetos estratégicos de infraestrutura tecnológica. Tais projetos possibilitariam uma auto-organização e autossuficiência de empreendedores comprometidos com o aumento da competitividade e ampliação da produtividade em um ambiente global de crescente complexidade dos processos produtivos.
A indústria 4.0 no Brasil ainda está longe das condições ideais de desenvolvimento estratégico existentes na Alemanha ou nos EUA, por exemplo, países industrializados que influenciam de forma considerável a estruturação dos processos industriais em todo o mundo. No entanto, quando o interesse das economias desenvolvidas está focado na sobrevivência competitiva de suas indústrias, o discurso favorável ao livre mercado global sem fronteiras e integrado ganha outros níveis de significado, principalmente quanto a padrões tecnológicos de manufatura avançada.
A implementação da Manufatura Avançada no Brasil obviamente não está restrita aos temas tecnológicos e de investimentos no setor, mas também se relaciona fortemente com aspectos de natureza política.
Em dezembro de 2017, o governo brasileiro lançou o Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) para Manufatura Avançada, nomeado ProFuturo (Produção do Futuro). Este plano define ações e setores prioritários para o desenvolvimento da indústria 4.0 no país e é alicerçado em 4 fontes principais:
ENCTI 2016-2022 (Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação);
Trabalhados desenvolvidos por especialistas da área e apresentados em workshops realizados em 7 estados brasileiros;
Pesquisa realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria);
Estudo realizado pela Acatech (National Academy of Science and Engineering in Germany).
O Plano de CT&I para Manufatura Avançada no Brasil está fundamentado no seguinte objetivo: “Propiciar condições de acesso e inserção das empresas brasileiras no ecossistema de manufatura avançada, com suporte da ciência, tecnologia e inovação para desenvolvimento de cadeias produtivas de setores econômicos estratégicos e promissores para o país, que atendam às demandas de alcance social”.
A ENCTI 2016-2022 apresenta alguns desafios globais a serem superados pelo Brasil, como os riscos de crise hídrica, alimentar e energética, envolvendo uma população em processo de envelhecimento e urbanização. Entretanto a ENCTI também destaca oportunidades para promover o aumento da competitividade e inovação: o acesso à biodiversidade, recursos minerais e agrícolas, além de competências científicas e tecnológicas instaladas em quase todo o território nacional.
Mesmo com esse quadro de possibilidades, que na perspectiva de observadores estrangeiros é visto como promissor, a pesquisa da Acatech, envolvendo cerca de 500 empresas brasileiras, mostrou que poucos empresários enxergam o Brasil assumindo o protagonismo na manufatura avançada em um âmbito mundial, ao mesmo tempo em que reconheceram ser a manufatura avançada (ou indústria 4.0) uma oportunidade para o desenvolvimento produtivo e social.
O conceito de Indústria 4.0 ainda está se consolidando no Brasil e é preciso considerar que 98% do nosso parque industrial é composto por micro, pequenas e médias empresas, com baixa produtividade e baixo nível tecnológico em comparação ao padrão internacional.
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